"O serviço público da RTP é um peso mas não é um fardo"
A primeira emissão de A Praça é na próxima segunda-feira, cerca de dois anos depois do final d"A Praça da Alegria. É o regresso de um velho programa à RTP1 ou a estreia de um novo formato?
Sónia Araújo (S.A.) - É o regresso de uma praça refrescada.
De uma Praça que perdeu a alegria?
Jorge Gabriel - A alegria é intrínseca a este género de formatos.
Depois da Sónia ter estado 17 anos e o Jorge 11 à frente do programa e após estes dois anos de interregno, qual vai ser o vosso maior desafio?
S.A. - É o desafio que qualquer programa diário: manter o ritmo, a boa disposição e a energia. Torna-se apenas mais simples porque gosto do que faço e, a partir daí, essa energia surge de forma natural. Não estou aqui a fazer nenhum frete nem nada que me está a ser imposto.
Conduzir este programa há tanto tempo não torna tudo mais fácil?
S.A. - Não, não. Faço-o, se calhar, de uma forma não tão stressada ou sofrida, como no início, mas sempre com aquela responsabilidade implícita que nos dá adrenalina, nervosismo e ansiedade. Estas são coisas que têm de estar sempre presentes, porque é o que nos empurra para a frente e não nos faz fugir, por exemplo, de um direto.
O que é que significa o regresso do formato ao Porto e a aposta da RTP no Centro de Produção do Norte (CPN), hoje [ontem] anunciada pela administração da estação?
J.G. - Significa virmos a conhecer protagonistas da nossa vida que, por vicissitudes várias, não dispunham de um lugar onde mostrar as suas capacidades. Quer queiramos quer não, estar a 50 quilómetros de um estúdio é diferente de estarmos a 250.
É simplesmente uma questão de distância?
J.G. - É também uma questão de distância. Mas é, se quiser, o aproveitamento de um espaço físico, de meios técnicos, de recursos humanos que estavam em stand by. Há muita gente no CPN com valia para fazer este programa e outros e que a RTP entendeu que estava na altura de lhes voltar a atribuir uma série de responsabilidades e oportunidades que eles são capazes de cumprir. Isto é para toda uma estrutura que está montada e que é património da RTP. Não se reconstruiu algo que deixou de ter, mas manteve tudo isto e aproveitou-os agora do melhor modo: meteu-os a funcionar.
Daniel Deusdado, diretor de programas da RTP1, disse que com esta A Praça o canal quer "tentar fazer uma TV sem medos" e alertou para a exploração da insegurança dos espectadores em busca de audiências. Até que ponto o share é importante?
J.G. - Vamos começar pelo lugar comum: não há prestação de serviço público sem serviço e sem público. Não há ninguém que goste desta arte [televisiva] e não goste de ter público a olhar para ela. Isso não existe. Não acredito que quem realiza um programa, seja ele qual for, não gosta de ter gente a ver.
Isso significa que vale tudo?
J.G. - Significa que temos uma carta que temos de respeitar. É uma boa responsabilidade que carregamos nos ombros. O serviço público da RTP é um peso mas não é um fardo e quanto mais pessoas o conhecerem, melhor.
Um peso que se sente nos diretos, no dia a dia?
S.A. - No dia a dia, em antena, não. Sente-se a nossa missão quando escutamos o feedback do público, quando lemos comentários nas redes sociais. Neste sentido, sim.
Por falar em redes sociais, A Praça vai ser mais interativa do que a Praça da Alegria?
S.A. - Claro que sim. Mas temos de perceber que grande parte do nosso público ainda não está dentro das redes sociais.
J.G. - Mas queremos que esteja.
S.A. - Até porque isso também é serviço público. Ensinar como se cria uma página de Facebook, como se cria um mail, como se fala no Skype. Isso aproxima as pessoas, como por exemplo os portugueses que têm a família no estrangeiro.
Mesmo mais moderno, programas como A Praça são sempre vistos como antiquados.
J.G. - É uma ideia errada. O primeiro programa em Portugal a usar um iPad foi a Praça da Alegria. O primeiro programa a fazer interação no Facebook em direto foi a Praça da Alegria.
A nova Praça quer conquistar um público mais jovem?
J.G. - A maioria do público que nos vê é mais velho, mas não podemos ignorar os novos públicos, principalmente a partir do meio-dia, em que há gente de todas as idades e de vários estratos sociais a ver-nos. E também não podemos esquecer quem nos vê através da RTP Internacional.